Outro dia vi alguém comentar que feijoada é uma coisa feia, e é mesmo. Partes de porco, das suas extremidades às suas partes internas, nacos de gordura, cebolas, alho, dose de cachaça com grãos escuros, às vezes vermelhos, marrons e até brancos, tudo fervilhando num caldo quente, hora apimentado, muitas vezes gorduroso mas se bem feito é saboroso, forte, dá muita sustância, cai bem no frio, vai até no calor, com samba, suor, muita cerveja.
Preferencialmente, como reza a tradição, é com feijão preto e muito porco. Há quem faça uma coisa parecida e tenha a audácia de chamar de FEIJOADA VEGANA, de FRUTOS DO MAR ou qualquer outra deturpação da tradição, do vernáculo que a definiu, pelo tempo ou pela sua origem. Tudo bem, são novos tempos, mudar receitas e dar sobrenomes a elas para vender mais nem é o maior pecado cometido dentro da gastronomia.
É um dos pratos típicos mais conhecidos e populares dna culinária brasileira. Composta basicamente por feijão preto, diversas partes do porco, as menos nobres por favor, linguiça, farinha ou farofa e o acompanhamento de verduras e legumes, laranja, uma dose de caipirinha vai bem.
A feijoada é comumente apontada como uma criação culinária dos africanos escravizados que vieram para o Brasil. A verdade é que os escravos a cozinhavam sim, para seus feitores que trouxeram da Europa este prato, que já era feito pelos portugueses, a feijoada transmontana e a poveira, com feijão vermelho e branco, respectivamente. Da França, o Cassoulet com feijão branco e por aí vai.
O fato real é que a feijoada teve sim influência africana dos escravos com a herança de sua origem e pátria, porque eram eles quem cozinhavam para a Casa Grande. É natural que incorporassem no seu preparo um pouco do que os definem. Porém, e isso é o mais importante nesta questão da origem é a herança indígena dentro da feijoada.
O índio, desde a antiguidade, tinha seus costumes de cultivo e consumo de grãos e proteínas de origem animal. Quando a gastronomia europeia se encontra com os insumos da nossa terra, nada mais natural que uma receita se adaptar ao lugar onde ela é feita, do preparo ao que existia ali pra se cozinhar.
É bom pensarmos no quanto um prato representa a identidade de um povo. No nosso caso, a feijoada representa tanto a herança dos nossos colonizadores, quanto dos escravos mas principalmente do povo nativo da nossa terra.
Ainda não gosto da feijoada de outra coisa, mas se o futuro é a adaptação ou as relações de consumo, então que assim o seja. Cozinhe e coma o que quiser, mas jamais esqueça suas origens, pois são elas que moldaram quem somos.